terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sindicato X União profissional

1)"Por força de lei o Sindicato dos Odontologistas No Estado da Bahia é o ÚNICO representante da classe odontológica no Estado da Bahia, a quem cabe “a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”"

2)"O Sindicato mantém uma luta incansável na defesa dos interesses da classe, em especial nas seguintes áreas: a) Defesa do Cirurgião Dentista junto aos planos Odontológicos, reivindicando reajuste nas tabelas..."

Retirei estes dois trechos da página virtual do SOEBA. Como o sindicato se auto define como único representante da classe, foi o órgão ao qual recorri quando recebi a notícia da redução da tabela de honorários que comentei no post anterior. Para minha surpresa(?),a resposta foi que o sindicato poderia assessorar o cirurgião-dentista ASSOCIADO, e só ele, na questão, mas de qualquer forma não poderia intervir em contratos, apenas sugerir alternativas, baseando-se sobretudo no incentivo à rescisão do contrato entre o convênio e o odontólogo.
Diante da resposta, me senti de mão atadas, pois se a única entidade que supostamente poderia fazer alguma coisa, declaradamente não interveria, quem poderia fazer alguma coisa?
Lana Bleicher, em 19 de janeiro de 2010, no seu blog "O dentista e o mundo do trabalho" chamou a atenção focando num tema polêmico envolvendo sindicatos: a contribuição sindical, um imposto OBRIGATÓRIO para toda a classe (associados ao sindicato, ou não). O pagamento da taxa consta na CLT, tendo assim previsão legal, e o odontólogo inadimplente pode sofrer cobrança judicial, culminando até com suspensão do exercício profissional. Um dos meus questionamentos referentes ao tributo é o fato de 60% do seu valor ser destinado para o sindicato. Visto que este trabalha em prol dos sindicalizados(o que confirmei quando recorri à entidade num momento de necessidade), não deveria ser esta uma contribuição voluntária e não compulsória? Bom, lei é lei, mas apesar de eu ser apenas uma dentista em apuros, e não uma parlamentar, registro aqui algo que eu gostaria de questionar em plenário. Diante de tudo que expus, acredito que a resposta para "quem poderia fazer alguma coisa?" seria a UNIÃO da classe, talvez este seja o único modo de buscar solução para os problemas dos profissionais. Seguindo os velhos lemas de "a união faz a força" e "um por todos, e todos por um" quem sabe possamos alcançar o resultado esperado?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Redução na tabela de honorários: o pesadalo vira realidade

A cada dia fico mais perplexa com a ação dos convênios odontológicos. Atitudes tomadas por estas empresas fazem com que a falta de respeito com os odontólogos beire o inacreditável.
Ao trabalharmos com convênios nos deparamos com diversos inconvenientes:

1) No topo da lista, sem sombra de dúvidas, a baixa remuneração dos serviços odontológicos;

2) Tempo de até dois meses para repasse do faturamento;

3)Glosas e mais glosas, muitas das quais são injustificáveis, como alegar que não foi enviada a radiografia final que comprova a execução do tratamento, e quando o dentista vai checar, pasmem(!) o rx está anexo na ficha, mas os peritos do convênio "não viram";

4)Atrasos no atendimento aos pacientes devido a demora no fornecimento das autorizações.

Todos estes fatores dificultam muito a vida dos profissionais e fazem com que o trabalho seja compatível com uma guerra declarada com três combatentes em campo: paciente, dentista e convênio. Os dois primeiros acabam perdendo nesta batalha. O paciente por dificilmente ter um contato verbal maior com o profissional, visto que este acaba usando o tempo com o cliente basicamente para concluir o tratamento, perdendo-se assim a chance de um vínculo mais pessoal na relação dentista/paciente. O Odontólogo tem que trabalhar incessantemente visando o retorno financeiro o que em se reflete em menor qualidade de vida. O convênio é o único que tem a lucrar nesta relação, tendendo a formar empresas gigantes cuja valorização pode ser claramente observada com o preço de suas ações no mercado financeiro, que em alguns casos superam até mesmo a de multinacionais consagradas há muito tempo.
A formação de uma dessas gigantes fez com que ocorresse o que eu achei ser improvável. Há um mês, um dos convênios que mais têm associados em Salvador comunicou às clinicas credenciadas que em virtude da fusão com empresas menores seria feito um reajuste em sua tabela de honorários que passaria a ser unificada. Para a surpresa e revolta dos credenciados houve REDUÇÃO nos valores de repasse dos procedimentos. Depois disso me pergunto: esta situação de desrespeito tem como piorar? Eu achava que não, mas como o inacreditável aconteceu não duvido de mais nada... E você?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Lapidando a porta de entrada

A recepção de uma clínica odontológica tem um grande papel na conquista e manutenção dos pacientes. Desajustes neste rol de entrada podem levar por água abaixo todo o trabalho do odontólogo, por mais bem quisto que ele seja por seu cliente.
Obviamente, a função de um recepcionista é receber bem aquele que chega. Todo paciente espera ser recepcionado de forma agradável, e o comportamento do dentista deve ser uma extensão do que se inicia na sala da recepção.
Certa feita passei por uma situação muito desagradável que ilustra perfeitamente como uma falha na recepção pode prejudicar todo o relacionamento cirurgião-dentista/paciente. Como a primeira paciente da manhã já me aguardava, iniciei meu trabalho às 08:30h pontualmente. Atendi os três primeiros clientes de 08:30h, 09:00h e 09:30h sem problemas, e às 10:00h a recepção avisou que a paciente de 10:30 havia chegado, mas o de 10:00h não. Às 10:15h perguntei novamente sobre o paciente de 10:00h e a auxiliar me falou que ele não havia chegado. Visto que a tolerância de espera de 15 minutos havia se encerrado comecei a atender o paciente de 10:30h, encerrando seu tratamento às 11:00h. Eu já ia chamar a pessoa do horário quando a auxiliar me falou que os pacientes de 10:00 e 11:00h horas estavam me aguardando. Neste momento não entendi nada! Perguntei a acd o que havia acontecido, e pra minha surpresa ela disse que a paciente de 10:00h havia chegado no horário, mas que a recepção so havia dito isso às 11:00h. Interfonei para a recepção e uma das recepcionistas disse que "tinham" avisado que a paciente havia chegado na hora que ela chegou ao consultório, questionei quem avisou, e ela disse que não sabia, que não se lembrava qual das duas recepcionistas havia feito o comunicado. A outra funcionária estava transitando pela clínica, ouviu a minha conversa, veio até o meu boxe de atendimento e ditou o mesmo texto que sua colega. Complexo entender como haviam comunicado a presença da paciente, mas não lembravam qual das duas tinha dado o recado e muito menos quem foi o interlocutor. Além disso, a recepcionista se dirigiu a mim com extrema arrogância, peculiariedade que outros odontólogos da clínica já haviam se queixado, e iniciou comigo uma verdadeira discussão com voz num tom bem alterado. Àquela altura eu já estava irritada o bastante e, erroneamente, respondi na mesma entonação que ela. Expus que era um absurdo duas recepcionistas esquecerem de avisar a chegada da paciente e não assumirem o erro. Infelizmente a cliente escutou trechos do bate boca e entendeu que eu não queria atendê-la, se retirou do consultório, retornando um tempo depois portando uma carta destinada à direção da clínica expressando seu mal estar.
Levei o caso aos membros da administração da clínica que posteriormente me comunicaram que após conversar com as recepcionistas ficou comprovado que eu não tive culpa e elas assumiram que esqueceram de avisar que a paciente havia chegado.
Mesmo com esta "absolvição" tive um enorme desgaste que me deixou muito reflexiva. Sempre tratei muito bem todos os funcionários dos locais que trabalho. Mas diante da postura daquela recepcionista me questiono até que ponto devo pensar numa empresa como uma espécie de família. Lógico que o bom convívio é fundamental no ambiente de trabalho, mas deve ser assimilado que ele não se fundamenta em relações afetivas. Assim, deve haver uma postura de certo distanciamento, que minimize a intimidade para dificultar a ocorrência de discussões, comuns entre família e amigos. Os pontos de atrito precisam ser resolvidos num nível mais objetivo e ser racional é fundamental, evitando-se ao máximo brigas em tom acalorado(mas haja sangue de barata!).
Esta passagem retrata, ainda, claramente como a imagem do profissional pode ficar manchada por um problema que teve origem fora da sua alçada. Em um consultório é necessário que exista uma parceria, um trabalho em equipe e uma falha em qualquer ponto pode comprometer toda a estrutura.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Limonada nada doce

Ouvi de uma pessoa que eu acabara de conhecer , e havia lido os relatos que postei anteriormente no blog, que eu deveria me especializar. Parei e pensei mais uma vez o quão importante seria o aprimoramento específico na minha carreira. Este questionamento desde sempre esteve presente.
Certa vez uma professora de Ortodontia, ainda na faculdade, me falou da importância de uma pós-graduação, mais especificamente da detenção de um título. Lembro bem dela afirmando que o ideal seria fazer uma especialização e não um curso de aperfeiçoamento, justamente pelo primeiro trazer um certificado de maior validade. A minha vontade era de terminar a faculdade e de imediato adentrar num curso que me trouxesse este título, mas sempre fui muito atenta às dicas dos mestres e também registrei cuidadosamente um outro conselho, que ia de encontro justamente a esta minha pressa. Um professor de Endodontia sugeriu que antes de eu iniciar uma pós- graduação deveria começar a trabalhar, por dois motivos:

1)Ganharia aprimoramento técnico, o que comumente chamamos de “mão”, que faria com que eu tivesse maior domínio, não só teórico, mas prático do que eu estava fazendo, o que consequentemente levaria a um maior aproveitamento do curso;

2)A prática diária deixaria mais claro que ramo eu teria maior aptidão para me especializar, pois muitas vezes um recém-formado acredita gostar de todas as áreas, escolher uma para se aprimorar pode ser tarefa das mais árduas.

Durante a graduação eu sentia uma grande afinidade com a Endodontia. Participei de uma seleção que me levou a ser monitora na área, escolhi o campo para meu trabalho de conclusão de curso, o qual tive a felicidade de ser publicado numa revista científica, e após a formatura consegui a maioria dos meus empregos justamente por fazer tratamentos endodônticos. No entanto alguns obstáculos relacionados à Endodontia surgiram com o passar do tempo. Desde sempre aprendi que a nesta especialidade a pressa é inimiga da perfeição, assim sempre fiz os tratamentos com muita cautela marcando sessões de 1 hora para cada paciente e dificilmente finalizando os casos em sessão única. Entendo como immprescindível o respeito à microbiologia dos canais radiculares, o que leva á necessidade de uso de medicação nos dentes em alguns casos. Lembro de um tratamento em que o paciente tinha um dente portador de necrose pulpar com lesão o que me levou a realizar trocas de medicação intracanal incessantemente em intervalos quinzenais por 6 meses! O detalhe é que o paciente tinha um convênio odontológico que autorizava no máximo 3 sessões de trocas medicamentosas. Por respeito à pessoa que eu estava tratando e a ética profissional não levei em consideração a questão financeira, apesar de saber que em situações como esta nos deparamos perfeitamente com a degradação e desvalorização profissional, aonde literalmente pagamos para trabalhar. Além destas particularidades as faltas dos pacientes eram constantes e como os horarios eram longos, a falta de um paciente significava 1 hora de cadeira perdida. Diante disso eu via que fazer um investimento de especialização em Endodontia teria validade apenas se eu fosse trabalhar exclusivamente com pacientes particulares ou com convênios que pagassem valores justos e reconhecessem as necessidades de cada terapia, o que na prática não ocorre.
Um outro percalço que surgiu foi o alto custo dos cursos de especialização. Na Odontologia uma pós-graduação custa mensalmente em média 1.300 R$ por cerca de 2 anos, além do investimento em materiais, como livros e instrumentais, durante o tempo de estudos. Diante do que eu passei a ver no mercado de trabalho passei a desconfiar que não valeria a pena investir tão alto.
A troca de experiências profissionais é sempre de grande valia. Duas conversas que tive com diferentes colegas de trabalho foram decisivas para que eu decidisse não fazer uma pós-graduação. Numa delas eu estava recém-formada e perguntei a uma profissional com 10 anos de estrada o que havia mudado para ela neste tempo de trabalho. A minha decepção foi tamanha quando ouvi que tudo permanecia estático, que a situação dela não era muito diferente da minha que havia acabado de concluir o curso. Num outro momento conversei com uma especialista em Endodontia e fiquei surpresa quando falávamos de honorários, e ela me disse a quantia que havia recebido naquele mês. Apesar de trabalharmos na mesma clínica, os mesmos turnos, a endodontista havia ganho três vezes menos do que eu que ali fazia a parte de clínica geral.
Não desmereço a importância de investir numa pós –graduação, mas acho que não podemos acreditar que as portas do paraíso se abrirão após subir este degrau. Muitos fatores estão envolvidos nesta fórmula de sucesso, inclusive sorte. Às vezes só estamos começando a descascar o limão para fazer uma limonada e é necessário ter ciência de que ela pode ficar muito saborosa equilibrando o azedo e o doce, mas há risco de azedar ou ficar adocicada demais.