segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Limonada nada doce

Ouvi de uma pessoa que eu acabara de conhecer , e havia lido os relatos que postei anteriormente no blog, que eu deveria me especializar. Parei e pensei mais uma vez o quão importante seria o aprimoramento específico na minha carreira. Este questionamento desde sempre esteve presente.
Certa vez uma professora de Ortodontia, ainda na faculdade, me falou da importância de uma pós-graduação, mais especificamente da detenção de um título. Lembro bem dela afirmando que o ideal seria fazer uma especialização e não um curso de aperfeiçoamento, justamente pelo primeiro trazer um certificado de maior validade. A minha vontade era de terminar a faculdade e de imediato adentrar num curso que me trouxesse este título, mas sempre fui muito atenta às dicas dos mestres e também registrei cuidadosamente um outro conselho, que ia de encontro justamente a esta minha pressa. Um professor de Endodontia sugeriu que antes de eu iniciar uma pós- graduação deveria começar a trabalhar, por dois motivos:

1)Ganharia aprimoramento técnico, o que comumente chamamos de “mão”, que faria com que eu tivesse maior domínio, não só teórico, mas prático do que eu estava fazendo, o que consequentemente levaria a um maior aproveitamento do curso;

2)A prática diária deixaria mais claro que ramo eu teria maior aptidão para me especializar, pois muitas vezes um recém-formado acredita gostar de todas as áreas, escolher uma para se aprimorar pode ser tarefa das mais árduas.

Durante a graduação eu sentia uma grande afinidade com a Endodontia. Participei de uma seleção que me levou a ser monitora na área, escolhi o campo para meu trabalho de conclusão de curso, o qual tive a felicidade de ser publicado numa revista científica, e após a formatura consegui a maioria dos meus empregos justamente por fazer tratamentos endodônticos. No entanto alguns obstáculos relacionados à Endodontia surgiram com o passar do tempo. Desde sempre aprendi que a nesta especialidade a pressa é inimiga da perfeição, assim sempre fiz os tratamentos com muita cautela marcando sessões de 1 hora para cada paciente e dificilmente finalizando os casos em sessão única. Entendo como immprescindível o respeito à microbiologia dos canais radiculares, o que leva á necessidade de uso de medicação nos dentes em alguns casos. Lembro de um tratamento em que o paciente tinha um dente portador de necrose pulpar com lesão o que me levou a realizar trocas de medicação intracanal incessantemente em intervalos quinzenais por 6 meses! O detalhe é que o paciente tinha um convênio odontológico que autorizava no máximo 3 sessões de trocas medicamentosas. Por respeito à pessoa que eu estava tratando e a ética profissional não levei em consideração a questão financeira, apesar de saber que em situações como esta nos deparamos perfeitamente com a degradação e desvalorização profissional, aonde literalmente pagamos para trabalhar. Além destas particularidades as faltas dos pacientes eram constantes e como os horarios eram longos, a falta de um paciente significava 1 hora de cadeira perdida. Diante disso eu via que fazer um investimento de especialização em Endodontia teria validade apenas se eu fosse trabalhar exclusivamente com pacientes particulares ou com convênios que pagassem valores justos e reconhecessem as necessidades de cada terapia, o que na prática não ocorre.
Um outro percalço que surgiu foi o alto custo dos cursos de especialização. Na Odontologia uma pós-graduação custa mensalmente em média 1.300 R$ por cerca de 2 anos, além do investimento em materiais, como livros e instrumentais, durante o tempo de estudos. Diante do que eu passei a ver no mercado de trabalho passei a desconfiar que não valeria a pena investir tão alto.
A troca de experiências profissionais é sempre de grande valia. Duas conversas que tive com diferentes colegas de trabalho foram decisivas para que eu decidisse não fazer uma pós-graduação. Numa delas eu estava recém-formada e perguntei a uma profissional com 10 anos de estrada o que havia mudado para ela neste tempo de trabalho. A minha decepção foi tamanha quando ouvi que tudo permanecia estático, que a situação dela não era muito diferente da minha que havia acabado de concluir o curso. Num outro momento conversei com uma especialista em Endodontia e fiquei surpresa quando falávamos de honorários, e ela me disse a quantia que havia recebido naquele mês. Apesar de trabalharmos na mesma clínica, os mesmos turnos, a endodontista havia ganho três vezes menos do que eu que ali fazia a parte de clínica geral.
Não desmereço a importância de investir numa pós –graduação, mas acho que não podemos acreditar que as portas do paraíso se abrirão após subir este degrau. Muitos fatores estão envolvidos nesta fórmula de sucesso, inclusive sorte. Às vezes só estamos começando a descascar o limão para fazer uma limonada e é necessário ter ciência de que ela pode ficar muito saborosa equilibrando o azedo e o doce, mas há risco de azedar ou ficar adocicada demais.

4 comentários:

  1. É muita granaaaaaaaa, se nao tem retorno nao vale

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  2. Parabéns pelo post. Mais e mais tempo investido na formação pode, a depender do caso, piorar o problema em vez de solucioná-lo.

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  3. A pós-graduação não vale apenas como título, apesar de sua existência estar baseada nisto. Mas o principio básico dela é poder aprender, errar, acertar mais e mais naquilo que você quer. Tenho a sorte de escolher a Periodontia como minha especialidade. Esta me abre um campo imenso de opções para trabalhar não só nesta como em outras áreas. Pois me permite conhecer Anatomia, Histologia, Fisiologia, Genética, Microbiologia... além de aprender a conhecer o paciente e sua individualidade, a ética e marketing para uso no consultório, coisas que a graduação não nos ensina, saimos meros mecânicos. Temos que ser engenheiros, pensar mais do que só executar. Talvez estas pessoas as quais você conversou sejam ou queiram ser meros mecânicos. Você parace ter a característica de um engenheiro. A especialização faria muito bem a você. Mas é só uma opinião. O custo é alto, mas acho que a recompensa será. Se você ganha alto sem ser especialista, imagina sendo. Abraço.

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  4. acho que a especialização só vale a pena se vc só atender pacientes particulares, pois se for para atender convenios um curso de aperfeiçoamento já esta bom demais!na odontologia atual predatorio pelos convênio em que uma restauração chega a ter um repasse de 10 reais e ainda com exigência de rx inicial e final, ode vc espera cerca de 2 meses para receber e ainda se o rx nao estiver bom, ou se colocou o codigo errado vc corre o risco de nao receber, o que vale fazer uma especialização em dentística!!!!!! como usar uma resina que custa quase 100 reais, um adesivo que custa 60, usar enhance para polir e fazer uma resina anerior para receber RIDÍCULOS 17 REAIS!!!!

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